terça-feira, 26 de outubro de 2010

Citações de revistas sobre a Crítica Bíblica I

Durante toda a sua vida editorial, o grupo Abril produziu matérias de capa sobre a Bíblia, Jesus e o Cristianismo em geral. Todas elas, reproduzem estudos liberais europeus e norte americanos que tratam do estudo crítico da Bíblia como Palavra de Deus. Tais estudos, procuram mostrar que a Escritura é apenas mais um livro antigo de um povo antigo, humano, demasiado humano. O esforço destes eruditos é mostrar que Jesus, como ser divino, foi uma invenção da igreja primitiva; os evangelhos são um amontoado de textos interesseiros com interpolações, adições e subtrações conforme o interesse político da igreja que deu certo. Abaixo, apenas uma amostra de centenas de reportagens sob a ótica crítica sobre Jesus, a Bíblia e o Cristianismo.

JESUS QUEM ERA ELE

"Não há história mais cheia de furos, esta é a verdade. Os relatos são confusos, as zonas de sombra se sucedem, as contradições abundam. Caso se leia cada Evangelho por si, verticalmente, muito bem - cada história até que exibe certa coerência. O problema começa quando se parte para a leitura horizontal, comparando um com outro"

"Quando se compara os evangelistas com outras fontes, externas a eles, o resultado pode ser desastroso. Veja-se o caso do douto Lucas, quando dá suas coordenadas históricas - ele erra tudo"

"O que se vai abordar aqui é o Jesus histórico. Que isso fique claro, de uma vez por todas. Não é o Jesus teológico. Não é o Cristo dos altares. Tampouco é o Jesus de cada um. nascido no recôndito recanto da intimidade onde brota, ou não brota, a fé. O Jesus em questão é o que nasceu, viveu e morreu na Palestina, concretamente, num determinado período histórico. Sobre esse Jesus um dos maiores estudiosos do Novo Testamento neste século, senão o maior, o alemão Rudolf Bultmann, escreveu, nos anos 20: "...já não podemos conhecer qualquer coisa sobre a vida e a personalidade de Jesus, uma vez que as primitivas fontes cristãs não demonstram interesse por qualquer das duas coisas, sendo além disso fragmentárias e muitas vezes lendárias, e não existem outras fontes". Bultmann era pessimista, como se vê, a ponto de depor as armas, no que se refere à pesquisa histórica de Jesus" (Veja, 23/12/92)

A MORTE DE JESUS

“Os evangelistas, pessoas que mal se sabe quem são, e onde viveram, não trabalharam com informações de primeira mão. Há um consenso entre os eruditos, hoje, de que seus trabalhos datam de no mínimo quarenta anos depois da morte de Jesus, sendo o mais antigo o de Marcos (escrito por volta do ano 70 A.D.), e o mais novo o de João (cerca de 100 A.D.). Nas narrativas da paixão, os evangelistas incluíram(*) personagens e situações inesquecíveis - as negações de Pedro antes de o galo cantar, os sumos sacerdotes Anãs e Caifás, o bom e o mau ladrão - e uma bomba-relógio. A bomba-relógio são as fortes acusações contra os judeus, tratados como responsáveis pela morte de Jesus. Ela foi estourando com intensidade variada ao longo dos séculos”. (VEJA, ed 12/04/95)

A BUSCA PELO JESUS DA HISTÓRIA

Os especialistas discutem livremente a função de proselitismo dos Evangelhos. A própria narração do Natal é interpretada como sendo uma espécie de esforço de propaganda. Belém era a cidade do rei Davi, uma ótima maneira de reforçar, a posteriori, a afirmação de que Jesus era o Messias

A busca pelo Jesus histórico – como de resto da maioria das investigações materiais da Antiguidade – produz mais dúvidas do que respostas. Nem a morte do Nazareno na cruz, uma das poucas certezas da história, deixa de suscitar interrogações” (Veja, ed. 15/12/2004)

QUEM FOI JESUS?

“Ele não nasceu em Belém, teve vários irmãos e sua morte passou quase despercebida no Império Romano. A história e a arqueologia desencavam o Jesus histórico - um homem bem diferente daquele descrito nos evangelhos” (SUPER, ed 183)

A BIBLIA PASSADA A LIMPO

“Descobertas recentes da arqueologia indicam que a maior parte das escrituras sagradas não passa de lenda”

“O problema central do Novo Testamento é que seus textos não foram escritos pelos evangelistas em pessoa, como muita gente supõe, mas por seus seguidores, entre os anos 60 e 70, décadas depois da morte de Jesus, quando as versões estavam contaminadas pela fé e por disputas religiosas ... O resultado é que, depois de dois milênios, parece impossível separar o verdadeiro do falso no Novo Testamento”

“O principal indício de que as conquistas de David e o império de Salomão são, em sua maior parte, invenções é que, no período em que teriam vivido, a arqueologia prova que a cultura canaanita (que, segundo a Bíblia, teria sido destruída) continuava viva. A conclusão é que David e Salomão teriam sido apenas pequenos líderes tribais de Judá, um Estado pobre e politicamente inexpressivo localizado no sul da Palestina” (SUPER, ed. 178)

A FRAUDE DE SÃO PAULO

“Há vários indícios de que, como num plano de sabotagem, Paulo divulgou, em nome do Messias, uma doutrina falsificada”

“Muito do conteúdo das epístolas está claramente em oposição à doutrina de Jesus. Isso ficou evidente após o descobrimento de escrituras autênticas e completas dos ensinamentos de Cristo: o Evangelho dos Doze Santos, encontrado em 1850 no Tibete; o Evangelho Essênio da Paz, achado na Biblioteca do Vaticano em 1925; e os Manuscritos do Mar Morto, encontrados em 1945 numa caverna do Oriente Médio, com os ensinamentos dos essênios que viveram nos séculos I e II” (SUPER, ed. 170)

PROCURA-SE JESUS

“Para a maioria dos pesquisadores os reis magos, o presépio e a estrela de Belém são invenções dos evangelistas para identificar o nascimento de Jesus com a vinda do Messias, que já era anunciado no Velho Testamento. A expressão é profana mas vale: há muito marketing político nos evangelhos” (SUPER, ed 103)

JESUS ANTES DE CRISTO

“Se você também está se perguntando por que os historiadores buscam evidências do nascimento de Jesus na cidade de Nazaré – e não em Belém, cidade natal de Jesus, de acordo com os evangelhos de Mateus e Lucas –, é bom saber que, para a maioria dos pesquisadores, a referência a Belém não passa de uma alegoria da Bíblia. Na época, essa alegoria teria sido escrita para ligar Jesus ao rei Davi, que teria nascido em Belém e era considerado um dos messias do povo judeu” (AVENTURAS NA HISTÓRIA)

O EVANGELHO SEGUNDO JUDAS

“Por dois milênios, Judas foi apontado como o maior traidor de Jesus. Agora, documentos sugerem que ele pode ser sido o mais fiel de seus seguidores” (SUPER, ed 226)

QUEM MATOU JESUS?

“De onde saíram então os relatos presentes nos Evangelhos? Segundo alguns pesquisadores, das profecias judaicas e da tentativa dos cristãos de confirmar Jesus como o messias. "Não vejo razão alguma para aceitar o que os Evangelhos falam sobre esses julgamentos como verdade histórica", afirmou à Super o historiador John Dominic Crossan, da Universidade DePaul, em Boston, Estados Unidos, um dos mais respeitados estudiosos do assunto. Para Crossan, tudo não passa de reciclagem: textos do Velho Testamento, escritos séculos antes da crucificação, teriam sido mastigados pelos evangelistas para dar uma aura de nobreza à morte de Jesus” (SUPER, ed 199)

QUEM ESCREVEU A BÍBLIA?

“A resposta tradicional você já conhece: segundo a tradição judaico-cristã, o autor da Bíblia é o próprio Todo-Poderoso. E ponto final. Mas a verdade é um pouco mais complexa que isso ... As histórias da Bíblia derivam de lendas surgidas na chamada Terra de Canaã, que hoje corresponde a Líbano, Palestina, Israel e pedaços da Jordânia, do Egito e da Síria ... O problema é que, a essa altura do campeonato, gerações e gerações de copiadores já haviam introduzido alterações nos textos originais – seja por descuido, seja de propósito. “Muitos erros foram feitos nas cópias, erros que às vezes mudaram o sentido dos textos. Em certos casos, tais erros foram também propositais” (SUPER, ed. 259)

A CRIAÇÃO DA BÍBLIA

“Durante muito tempo, a maioria dos cristãos (hoje estimados em mais de 2 bilhões) se contentava com uma resposta simples para essa pergunta: a Bíblia fora escrita por líderes religiosos inspirados diretamente por Deus, e pronto. “Ainda hoje há uma noção ingênua de que ela praticamente caiu do céu”, diz o historiador André Chevitarese, professor de História Antiga da Universidade Federal do Rio de Janeiro e especialista em primórdios do cristianismo. “Poucos se dão conta de que esses textos foram selecionados, escritos, copiados e modificados durante séculos e que, até chegar às versões atuais, muitos outros manuscritos ficaram de fora.” (Aventuras na História, ed. 087)

A INVENÇÃO DE DEUS

“Por isso mesmo, quem lê o Antigo Testamento (o Pentateuco, para os judeus) sabe que Javé não guarda semelhanças com o pai dócil ou amoroso que mais tarde o cristianismo iria propagar. “É um deus brutal, parcial e assassino: um deus de guerra, que seria conhecido como Javé Sabaoth, Deus dos Exércitos”, escreveu a historiadora Karen Armstrong. “É passionalmente partidário, tem pouca misericórdia pelos não favoritos, uma simples divindade tribal.” (Aventuras na História)

ABRAÃO EXISTIU?

“Talvez historicamente não tenha existido um só Abraão, mas vários, que ajudaram a compor o Abraão bíblico ... Até aquela época, as narrativas eram basicamente orais. Circulavam várias histórias sobre Abraão e os demais patriarcas. Aos poucos, esses relatos começaram a ser escritos, obviamente sofrendo influências literárias e ideológicas de acordo com o momento histórico que o povo vivia ... Assim, quando as últimas versões do Gênesis foram escritas, os redatores tentaram substituir referências às divindades da região de Canaã – como o nome El – por invocações a Iahweh. Interferências como essa também moldaram a figura do Abraão bíblico ... Vários clãs contavam as histórias dos seus pais e fundadores. A história de Abraão foi a que prevaleceu e acabou absorvendo as demais” (SUPER, ed. 190)

PAULO TRAIU JESUS?

“Paulo, o homem que inventou Cristo ... A influência de Paulo é indiscutível. Mas, para uma corrente de historiadores e teólogos, ele deturpou os ensinamentos de Jesus Cristo – a ponto de a mensagem cristã que sobreviveu ao longo dos séculos ter origem não em Cristo, mas em Paulo. Esses pensadores julgam ser mais correto dizer que o que existe hoje é um "paulinismo", não um cristianismo. "As cartas de São Paulo são uma fraude nos ensinamentos de Cristo. São comentários pessoais à parte da experiência pessoal de Cristo” (SUPER, ed. 195)

UM OUTRO JESUS

“Mas, afinal, que textos(Apócrifos) são esses? Dá para dizer que eles são vestígios de cristianismos perdidos. Sim, é isso mesmo: o cristianismo, no começo, não era um só, eram vários. "Nos séculos 2 e 3, havia cristãos que acreditavam em um Deus. Outros insistiam que Ele era dois. Alguns diziam que havia 30. Outros, 365", escreve Bart Ehrman, professor de Estudos Religiosos na Universidade da Carolina do Norte, no livro Lost Christianities ("Cristianismos Perdidos", sem versão em português)”

“Os evangelhos apócrifos, da mesma forma que os canônicos, não devem ser encarados como reproduções exatas das palavras de Jesus Cristo, mas como interpretações da mensagem dele feitas pelas primeiras comunidades cristãs”

A HISTÓRIA SECRETA DO CRISTIANISMO

“As igrejas maiores e mais influentes tentaram impor seus textos, o que as menores não aceitavam. Havia debates e acusações mútuas de heresia entre elas. A peleja continuou até o século 4, quando tudo indicava que o cristianismo apostólico iria prevalecer sobre os outros cristianismos”

“Os apócrifos revelam que o Novo Testamento não nasceu pronto e acabado e que os textos que servem de base para a atual doutrina cristã passaram por um complicado processo de “edição”. Também deixam claro que, ao contrário do que se imaginava, o cristianismo praticado hoje não era o único nos primeiros séculos. Existiam vários cristianismos, cada um com sua própria interpretação da vida de Jesus e seus ensinamentos”

“Começou, então, a perseguição a todos que ousavam discordar da recém-formulada Escritura Sagrada. Os gnósticos, docetas, ebionitas e ofitas foram acusados de heresia. Os que insistiam em desrespeitar o cânon eram punidos com a excomunhão ou a morte” (SUPER, ed. 254a)

*grifos meus

P.S. encontra-se os mesmos resultados pesquisando as capas sobre os mesmos temas na Revista Época e Galileu, da Editora Globo.

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